sexta-feira, 22 de junho de 2012

''Há anos raiou no céu fluminense uma nova estrela''


1990, Amsterdã – Ela bocejava, brincando com a fumaça que saia de sua boca. O frio era intenso, e ela cobria sua cinta liga e o seu vestido curto com um grande casaco cor creme. A rua estava escura e suja, quase silenciosa. Mas os sapatos altos que ela usava para trabalhar batiam no chão e quebravam o silêncio.
 Chegando em casa, naquela pequena imundice, havia algumas contas atrasadas encima da mesinha da sala, enquanto na geladeira, nada.Saiu novamente, dessa vez com calças, rumo a uma lanchonete que havia a algumas quadras dali. Sentou-se sozinha, embora a mesa fosse bem espaçosa.
 - Um lanche de queijo com tomate e um café, por favor.
 Esperava distraidamente pelo pedido, até que escutou um soar na porta, era o sininho que anunciava a chegada de alguém.  E naquela noite ela realmente não esperava ninguém, muito menos um homem tão bem vestido e bonito como aquele.
 - Posso me sentar aqui?
 - Sim
 “Será que ele estava em busca de meus serviços, ou me reconhecera da boate?” Pensava a menina da gare. Ele fez seu pedido e continuou sentado, até então o silêncio reinara.
 - Quem é você?
 - Fernando.
 - Prazer, Maria da Glória – Lúcia.
 - O que você faz aqui?
 - Trabalho.
 - Aonde?
 O diálogo fora interrompido pela garçonete, que chegou com os lanches. Lúcia começou a mexer o café, fazendo de conta que tinha se esquecido da pergunta que Fernando fizera.
 - Você trabalha aonde?
 - Numa boate.
Ele não pareceu surpreso, muito menos a desprezou. Pelo contrário, sorriu.
Comeram e conversaram, e a hora passou.
- Bom, já é muito tarde, quase amanhecendo. Eu preciso ir, mas foi bom conhecer você, Fernando.
- Não, por favor, deixe que eu a leve.
Para Lúcia era estranho estar em um carro de um homem, já que as únicas vezes que entrara, fora para fazer o seu trabalho.
- Vira ali naquela rua escura, quarta casa à direita.
Fernando parou o carro e fitou os seus olhos. Depois a sua boca. – Ele a observava docemente. Era visível a timidez de Lúcia, embora nas noites da boate ela não demonstrasse.
 Fernando a beijou, mas não demorou muito para ela interromper o ato.
 - O que você quer de mim Fernando? Eu sou apenas uma dançarina de boate!
 - Quero você.
 Bom, eu e Fernando continuamos a nos encontrar pelas tardes naquela mesma lanchonete durante anos. Comecei a estudar, me formei e nos casamos. E hoje estou aqui, escrevendo para vocês a história de como a minha vida mudou. Mudou, por causa de um homem que se apaixonou por uma dançarina de boate, e amou-a durante meses, todas as noites, em segredo. Mas essa já é outra história.
 Porque por trás de uma Capitu, sempre há uma Senhora. E por trás de uma Senhora, sempre há uma velha Capitu. Pobre seria desse Bentinho?

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