domingo, 22 de julho de 2012

A Renda Vermelha


Seus cabelos, tão alaranjados e enrolados, que em seus cachos que eu segurava, me perdia. Beiravam os seios – que não eram tão favorecidos, mas muito bem delicados –. Seus lábios escreviam em meus, salientes e grossos. Sua pele exalava não só prazer, mas um cheiro que poderia ser comparado ao orvalho que, em segundos planos eu olhava pela janela do quarto. Seus olhos míopes – chumbo – baleavam-me, pedindo ardentemente por...
  Da fita do ‘corset’ a dúvida: Será isso tão errado?
Na minha mente, perturbada com questões carregadas de preconceitos mal formulados, a vontade não cessava. E suas mãos, que impiedosamente não perdoavam. Meu corpo falhamente se restringia; a menina que cedia.
 Na escrivaninha, os óculos antigos. No chão, um vestido. Da janela do quarto, a chuva. Da vitrola um ‘yeah, yeah, yeah’.
   Entre as palavras escritas, mentiras. Escritas num papel, num beijo, num corpo.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Carrossel da Vida


Menino feliz, de olhos fechados, no carrossel ele brinca
Gira, gira, gira – o carrossel da vida
As mãos ele tira
Gira, gira, gira – ele brinca com o carrossel da vida

Nesse ponto não há parada
Mas qualquer que seja a  falha, chega a chegada
O menino não quer mais brincar
E o carrossel ainda se põe a girar
Gira, gira, gira – o carrossel da vida

O momento chegou
O sino badalou
A sirene soou
O menino gritou

Sangue de montão, menino no chão
Hora da parada, carrossel na chegada
Gira, gira, gira – acabou a vida.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Crisântemo vermelho


Ó deusa de sublimes formas
Encantos e perfumes

Teus doces lábios, que por entre reentrâncias e saliências percorrem
Roçam-me, culminando-me de desejos

Teus olhos, tão negros e nocivos
Que refletem a luz do meu desejo, embebedando a minha alma da sua toxina

Delicada forma, que com carinho percorro e descubro
Crisântemo vermelho
Vermelho veneno do amor


sexta-feira, 13 de julho de 2012

Beijo de bigodes


  Eu passava em frente da sua quitanda, e meu uniforme denunciava um árduo dia de estudos, mas ele não se importava com isso. Passava eu e mais três amigas minhas: Ana, Cláudia e Beatriz.
  - Boa tarde, Seu Arnaldo.
  - Boa tarde, Carol.
   Nojento.
  - Carol?
  - Sim.
  - Quero lhe mostrar uma coisa na quitanda. Sozinha.
  Fiquei séria. Elas esperavam do lado de fora, e eu entrei. Seu Arnaldo me guiou até a cozinha dos fundos, tirou o seu avental branco, e me colocou sentada em cima do mármore da pia da cozinha. Tirou também o meu uniforme, e me fitou por alguns segundos. Roçou o seu bigode em meu pescoço, e um pouco mais abaixo. Colocou. Meus olhos se arregalaram, os dele se fecharam. Tentei, mas ele conteve o meu grito tapando a minha boca, e embora os meus olhos estivessem cheios de lágrimas, consegui colocar meu uniforme novamente. Saí correndo. Na porta ele me interceptou:
  - Carol?
   Aproximou-se e colocou em minhas mãos balas argentinas. Havia uma porção aquelas na gaveta do armário do meu quarto.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

São coisas da vida


Bastou um instante para que as lágrimas rolassem livremente pelo rosto; bastaram segundos para que ela fechasse os olhos e desejasse aquele momento novamente; não bastou nada para que ela percebesse que agora tudo não vai passar de lembranças. Lembraças encarnadas em músicas, lugares, cheiros e sabores. Nada mais que saudades.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Á ninguém, agora


Tempo passa
Tempo vai
Tempo vem
Meu amor passa
Meu amor vai
QUEBRANDO AS REGRAS, A MUSICALIDADE, O MEU POEMA, O MEU CORAÇÃO.
QUEBRA TUDO!
Quebra
Mas o meu amor não vem

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Gado Marcado, Pátria Amada


Essa seca que acompanha a pobreza
Uma desgraça!
Miséria, bagunça
NINGUÉM ARRUMA?
NINGUÉM VÊ?

- Cadê a produção? - Não tem não, senhor.
- E para a exportação? -Tem sim, senhor.

Olha aí, estão morrendo de fome.
Para esse povo não tem perdão?
Mas são vidas em questão!
Olha aí.

domingo, 1 de julho de 2012

Metalinguagem Visual


A sombra do sorriso que afaga a solidão
O timbre da voz que remete a inquietação
Um medo, uma indecisão

Entre o terceto: um, uma
Entre o quarteto: o SEU, a SUA
A verdade nua e crua
A decepção dura e escura.

Mate a charada, não tope qualquer topada
O que rompe a barreira do meu entendimento
 Não rompe a barreira da sua hesitação
 Nada mais a declarar, apenas o seu olhar.