quinta-feira, 31 de maio de 2012

Memória olfativa


  Incrível como tudo carrega um sentimento. Uma folha, um lugar, um presente, um bilhete. Qualquer coisa que o valha, carrega uma lembrança, uma emoção.
  Não sei dizer bem se isso é bom ou mal, mas sou guiada por cheiros. Ás vezes aquela comida que lembra a sua mãe. A toalha branca com flores vermelhas que lembra o Natal em família. O sino que bate e lembra aquelas missas chatas para chuchu. Cheiro de roupa. Cheiro de sopa.
  Tem cheiro que lembra o primeiro amor. Tem cheiro que te deixa com um nó na garganta de tanta saudade. Tem aquele cheiro de lanche, que lembra os risos e brincadeiras após uma apresentação de Balé. Tem o cheiro de chuva (ah, o cheiro de chuva) que lembra aquela pessoa especial. Cheiro de mercado ás sexta-feiras depois da aula à tarde. Tem cheiro que lembra boneca nova. Tem cheiro de natureza que lembra o meu tio. Tem cheiro que lembra até férias.
  Mas tem vento, vento que sopra, vento que conta, e tem o vento da recordação, que bate e trás um cheiro. Ás vezes, um cheiro que você nem queria lembrar, mas inevitavelmente lembra.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Chamada Irrecusável



 Assim como toda manhã, carregava seu livro embaixo do braço até um Café, e gentilmente pedia um chá. A menina da capa cinza lia misteriosamente, mas quebrando o silêncio do local, o celular tocou, e com a sua voz fina e calma ela atende:
- Alô?
 Um minuto no telefone foi o suficiente para mudar sua feição, que agora era bem assustada. Com nervosismo e bastante trêmula, ela mexia seu chá. Atenta, leu a última página do seu livro, tomou o último gole de chá, e acendeu o seu último cigarro. Na medida em que fumava, mais calma ficava. E aos poucos, brincando com a fumaça, sua feição tranquilizou-se novamente.
Pagou o chá, comprou mais algumas balas e saiu encantada pelos sininhos da porta. Em frente, havia uma praça repleta de pombos. Gordos, brincavam e comiam pão. Ela caminhava até lá, mas desatentamente foi impedida por um carro...
A chamada da vida fora terminada.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Qualquer semelhança é mera coincidência


Feliz foi enquanto durou
Existiu?
Ligeiramente você sentiu?
Impossível!
Pretérito perfeito
Entendeu, ou vai continuar negando?
Mas, porém, contudo, entretanto
Você foi hipérbole da negação
Paradoxo do sentimento
Seis versos,os seis começos
Do grego idiótes, para o latim idiota.

Morre e ninguém nota


Fala, mas ninguém liga
Chora, mas ninguém se preocupa
Grita, e ninguém escuta
Dolorosamente
Vagarosamente
De fininho, um sopro te leva
E então você percebe que não está mais ali, nunca esteve
Tenta recomeçar, mas é tarde demais para tentar...

domingo, 27 de maio de 2012

Senti,passou: Passado


  Eram duas irmãs. A mais nova ganhara a exatamente três semanas seu adorável porquinho-da-índia. Colocava-o no quintal, beijava e mimava. Numa sexta-feira, sua mãe saiu com seu pai, e a irmã mais velha solicitou que ela pegasse o porquinho para que pudessem brincar. Talvez fosse nova demais, talvez meramente abobada, mas não conseguiu pegá-lo. A mais velha, experiente, foi ajuda-la. Por um momento, um desvio de atenção, alguma delas fora incapaz, e o pequeno caiu fatalmente.
- O que aconteceu? Perguntava a mais nova com os olhos cheio de lágrimas.
- Você derrubou, ele bateu a pata na madeira da casinha e morreu.
Sem tempo de entender ou questionar, a mãe chegara, e chorando a mais nova dissera: - Matei o porquinho!

Sentimento de culpa, quem é que gosta? Mas carregou por anos. Até que um dia, já crescida, a mais velha confessou: - Quem derrubou o porquinho fui eu.

sábado, 26 de maio de 2012

Porque você se foi mamãe?


Em segredos eu amava, admirava,adorava
Você passou, e eu fiquei
Chorei, gritei, mas nada mudou
Agora, queria que o tempo fosse suficientemente capaz de voltar
Só para que eu pudesse te tocar
Te ver,beijar,amar
Por tudo que não falei, por tudo que não fiz
Só pela ultima vez,mamãe

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Saudades



Devagarzinho, chega de fininho como quem não quer nada (psiu, silêncio)
Mas de repente, sem permissão alguma, abre as portas (BUM)
TOMA O SEU LUGAR
DOMINA
DEVASTA
SUFOCA
ENLOUQUECE

Foto: Julie de Waroquier

Normalmente, comumente, fatalmente.


O ser humano tem uma mania chata de olhar para o passado: Sempre o que já foi parece melhor. Aquela mesma ladainha “quando eu era pequeno, tudo era tão diferente”. Desacreditamos no presente, olhamos para o passado, e gritamos para o futuro.   
   Por causa dessa preocupação tola do que virá ou do que já passou, deixamos de notar, de viver, e então tudo vira rotina - mesmice. Mesmo quando a única coisa que realmente importa é fazer das lembranças, uma expectativa para o futuro e um incentivo para o presente. 
Foto: Bresson

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Entre Versos


NAs entrelinhas eu vi  
Em Meias palavras eu senti
Implícito dEscontente
Entrelinhas eu quIs
Meias palavras bastam.