Incrível como tudo carrega um sentimento. Uma folha, um
lugar, um presente, um bilhete. Qualquer coisa que o valha, carrega uma
lembrança, uma emoção.
Não sei dizer bem se isso é bom ou mal, mas sou guiada por cheiros.
Ás vezes aquela comida que lembra a sua mãe. A toalha branca com flores
vermelhas que lembra o Natal em família. O sino que bate e lembra aquelas
missas chatas para chuchu. Cheiro de roupa. Cheiro de sopa.
Tem cheiro que lembra o primeiro amor. Tem cheiro que te
deixa com um nó na garganta de tanta saudade. Tem aquele cheiro de lanche, que
lembra os risos e brincadeiras após uma apresentação de Balé. Tem o cheiro de
chuva (ah, o cheiro de chuva) que lembra aquela pessoa especial. Cheiro
de mercado ás sexta-feiras depois da aula à tarde. Tem cheiro que lembra boneca
nova. Tem cheiro de natureza que lembra o meu tio. Tem cheiro que lembra até
férias.
Mas tem vento, vento que sopra, vento que conta, e tem o
vento da recordação, que bate e trás um cheiro. Ás vezes, um cheiro que você
nem queria lembrar, mas inevitavelmente lembra.